domingo, 28 de agosto de 2011

Pizza pra um


É, eu estava realmente muito bêbada e precisava te ligar, ou melhor, te mandar uma mensagem, sei lá. Mente contraditória, ideias confusas- o barulho da música alta vinda da boate ainda se ouvia aqui de fora- suor, um gosto amargo na boca, um tom amargo no coração. Eu estava bêbada, eu estava péssima, eu estava sentindo uma falta cruel, arrebatadora, inexplicável de você. E eu precisava pegar o celular e te ligar e dizer que te amava, que você foi um grande idiota o tempo todo que ficamos juntos, mas que estava confirmando essa imagem de idiota-retrógrado-machista-canalha só pelo fato de não ter me procurado durante todo esse tempo.

E era ruim pensar que você sempre fazia as coisas erradas, sempre fazia tudo do avesso, que quando eu dizia 'deixa pra lá' , mas no fundo querendo que você não deixasse nada pra lá, que você se importasse, que você dissesse 'Calma, senta aí vamos conversar, que que tá acontecendo?'. Mas você fazia o contrário do que eu queria que você fizesse, deixando pra lá como eu realmente disse, e não era por não entender que por trás do meu 'deixa pra lá' tinha uma infinita esperança de que você realmente se importasse. Não, você entendia claramente tudo. Deixar pra lá era uma forma de comodidade sua, era uma forma de fazer eu assimilar que nós não éramos tão intensos como parecia, nós não éramos. Nós nunca fomos.

E 'droga', eu to chorando há quase meia hora e as pessoas passam e me vêem sentada bêbada nesse beco imundo. Maquiagem borrada, meia rasgada, e reparando bem, eu ainda uso a medalhinha que você me deu. Aquela que era pra eu sempre lembrar de você, mesmo quando a gente tivesse distante um do outro. Mas ela seria conveniente pra distância física e não agora, que a distância ultrapassa os lugares por onde estamos, e invade nossa alma nos distanciando tanto há tempos. Como se fosse preciso uma medalhinha pra lembrar de você. Afinal, era só eu sentir qualquer outro homem (e eu sempre sentia ou me manipulava dizendo a mim mesma sentir) com a fragrância de seu perfume, ou ligar a TV no domingo a tarde (como a gente sempre achava um saco esses programas do fim de semana) ou ouvir um disco indie , daqueles de tocar a alma, daqueles que traziam nossa vasta trilha sonora. Ou então abrir a geladeira e encontrar uma panela de brigadeiro que eu sempre fazia pra comer quando estava de TPM e você aproveitava da situação pra se lambuzar de chocolate também. E pra falar a verdade, não era preciso fazer nada disso, porque o seu amor estava ali no meu peito e , por mais que eu quisesse, não saía dali.

É, eu podia mudar de casa, eu podia mudar de amigos, eu podia mudar os lugares que eu frequentava, eu podia mudar de vida, mas sempre estaria carregando comigo a lembrança desse amor rejeitado, magoado, estraçalhado, que foi o nosso. E desde o dia que você resolveu não me querer mais, foi difícil. Doeu muito, mas fui me acostumando com a dor, com a ausência , com as sextas-feiras solitárias, com as comédias românticas assistidas em companhia das amigas, com o celular que só recebia mensagens da operadora. É, eu fui me acostumando, mas não superando.

Mas agora eu estou aqui fora e está tão frio, e sua medalhinha toca meu peito, e as lágrimas borram minha maquiagem e tem um tanto de gente passando olhando pra mim. E eu estou com uma vergonha terrível e com vontade de que você estivesse aqui e me abraçasse e me dissesse pra ficar tranquila, que era só uma porre que eu tinha tomado e que tudo isso tinha sido um pesadelo e que amanhã na hora que eu acordasse ainda meio atônita você estaria ao meu lado deitado na cama bagunçada seminu, com as roupas jogadas pelo chão. Mas você não estava ali pra me abraçar e talvez você estivesse abraçando outra ou se divertindo pra valer com seus amigos, o fato era que você estava indo muito bem sem mim e eu muito mal sem você.

Peguei o celular, busquei seu número na agenda (como se eu já não tivesse decorado), hesitei em clicar na tecla de chamada. A última lágrima caiu no visor. Engoli a seco a saliva, o choro, tudo. Me levantei e decidi ir embora com essa ideia da ligação perturbando a cabeça. Mas vontade dá e passa, diferente da dor que parece ser sempre constante. Amanhã eu vou acordar feliz por ter resistido ao fato de não te ligar e com uma tristeza tremenda de saber que isso tudo não foi um pesadelo, que você não está aqui e talvez nunca mais esteja. E eu vou poder dormir com essa camisa larga todos os dias e com a maquiagem borrada, abraçada nesse ursinho de pelúcia e pedir pizza pequena pro moço da entrega porque minha vida anda vazia, apesar do meu coração estar cheio de amor. Amor doído, amor traído, amor rejeitado, enfim, uma droga de amor. Amor que ninguém quer pra si, amor que ninguém quer pra amar.

6 comentários:

Andreza Gomes disse...

Oie Thalitha, que história triste menina! O bom é que tudo na vida é somente uma fase, depois da tempestade vem a bonança e o sofrimento nos fortalece.

bjiimm e ótima semana

http://meuamorpaquistanes.blogspot.com

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Andressa Tavares disse...

Engraçado como a maioria das pessoas só tem coragem de fazer certas coisas quando bebem..
acho que se for preciso, acho válido fazer esse "esforço"..
história triste..
mas como a Andreza disse..
é uma fase..
e como as outras que já passaram, vão passar também!

Natália Rocha disse...

Gostei imensamente do texto! Tão real, intenso.

'porque minha vida anda vazia, apesar do meu coração estar cheio de amor.'

Tão ruim passar por isso, essa contradição de amar e não viver esse amor.

Mas há de ter outros amores, outras alegrias, outras noites ouvindo um cd de indie, rs, sentindo tudo novamente.

beeijo, moça bonita*

Davi Drummond disse...

ei, curti teu blog =))

bem bacana os textos \o/

to seguindo aqui, se quiser visitar r seguir o meu:

www.foiporquerer.blogspot.com

A.S. disse...

Thalita,

Os grandes amores surgem sempre por entre os mais dificeis caminhos!


Beijos, querida!
AL

Anônimo disse...

A bebida é só o combustível, o que realmente queremos é que é o estopim dos grandes feitos.
Ótima semana para você!

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